A construção da barragem de Foz Tua pode levar à perda da classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial da UNESCO, de acordo com um relatório citado pela edição desta quarta-feira do jornal Público.
De acordo com um relatório elaborado por um uma associação de profissionais da conservação do património, a Icomos, a construção da barragem do Tua terá "um impacto irreversível e ameaça o valor excepcional universal que é o fundamento da classificação da UNESCO".
A Quercus já pediu ao Governo que pondere o que é mais importante para o país, o Douro como património mundial ou a barragem do Tua, face à possibilidade da UNESCO retirar a classificação devido ao impacto da barragem.
"Esperamos que o Governo procure pesar o que é mais importante para o desenvolvimento do país: se uma barragem ou se a classificação de património mundial da Região do Douro, até em termos de impacto turísticos", disse à Lusa a membro da associação ambientalista Quercus Susana Fonseca.
Por outro lado o presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro) diz que a classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial da Humanidade não pode ser um pretexto para que nada se faça neste território.
"Não se pode criar uma reserva aqui. É preciso criar condições para as pessoas que cá vivem, senão podemos vir a ter uma reserva sem habitantes", afirmou Artur Cascarejo, também presidente da Câmara de Alijó, concelho onde está a ser construído o paredão da Barragem de Foz Tua.
Hoje o jornal Público cita um relatório, elaborado pela associação Icomos, que refere que a construção da barragem terá "um impacto irreversível e ameaça o valor excepcional universal [que é o fundamento da classificação da UNESCO".
O autarca disse desconhecer este relatório, mas lembrou que, antes de se iniciar a construção da barragem, foi necessário proceder a uma Declaração de Impacto Ambiental (DIA) e aprovar o Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAP).
"Agora que já estão em obra, que a paisagem está escavacada, é que vêm por em causa o empreendimento", questionou o autarca. Artur Cascarejo recordou os aspectos negativos da barragem com a perda de "uma beleza ambiental", mas sublinhou as contrapartidas positivas decorrentes deste projecto, nomeadamente para o seu concelho.
Segundo o autarca, o empreendimento está a criar 1500 postos de trabalho, o alojamento em Alijó está praticamente esgotado e, nos últimos tempos, até abriram novos restaurantes no concelho.
Entre as contrapartidas para a região pelos impactos da barragem está também a criação de uma agência de desenvolvimento regional, em parceria com as cinco autarquias da área de influência do empreendimento, nomeadamente Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Mirandela, no distrito de Bragança, e Alijó e Murça, no de Vila Real.
São cerca de 20 milhões de euros que, segundo Artur Cascarejo, vão ser investidos no empreendedorismo local, em obras com vista ao desenvolvimento deste território e na preservação ambiental.
A barragem de Foz Tua faz parte do Plano Nacional de Barragens. Este empreendimento deverá estar concluído em 2015 e representa um investimento de 305 milhões de euros.
A EDP estima também que esta obra vá gerar quatro mil postos de trabalho, directos e indirectos.
Por fim, o autarca disse estranhar que, antes de cada aniversário da classificação do Douro, que se assinala a 14 de Dezembro, surjam sempre notícias sobre o risco de desclassificação ou de repreensões por parte da UNESCO.
A Icomos, uma associação de profissionais da conservação do património, realizou em Abril uma visita ao local e elaborou, a pedido do Governo português, um relatório sobre as consequências da construção da barragem.
Num relatório concluído no final de Junho e remetido ao governo português em Agosto, a Icomos aponta os impactos negativos e graves da construção do empreendimento e sublinha que o Estado português não adoptou todos os procedimentos a que está obrigado perante a UNESCO no processo de análise e aprovação do projecto da barragem.
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